Renata Fan, uma das principais jornalistas esportivas da Band, se envolveu em uma polêmica. Desta vez, a apresentadora postou um meme em seu Instagram que trazia duas imagens: na parte de cima, a frase “Na Band” acompanhada de uma foto dela ao lado de Denilson, seu colega na emissora. Na parte de baixo, a frase “Na Globo” ilustrada com uma foto de Denilson ao lado de Pabllo Vittar.
A mensagem implícita no meme é clara e preocupante. Ao comparar as duas emissoras e seus contextos, Renata sugere que a Band mantém uma linha mais conservadora e “adequada”, enquanto a Globo, por sua associação a Pabllo Vittar, representa algo que deve ser ridicularizado ou desprezado. É um ataque direcionado não apenas à cantora, mas a toda a comunidade LGBTQIA+, e reforça uma narrativa de ódio frequentemente promovida em ambientes onde o machismo e o preconceito imperam.
Renata, mesmo diante da repercussão negativa, não se desculpou. Sua decisão parece calculada: ela conhece bem o público que consome seu conteúdo, majoritariamente masculino e conservador, e aparentemente aposta no apoio desse grupo. No entanto, atitudes como essa têm consequências mais amplas e graves do que curtidas em uma rede social.
Homofobia é crime: as consequências legais da postura de Renata Fan
O que Renata Fan talvez ignore — ou prefira ignorar — é que homofobia não é apenas uma opinião polêmica. Desde 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) equiparou atos de homofobia e transfobia ao crime de racismo. Isso significa que postagens como essa, que claramente fomentam preconceito e incitam a discriminação, podem ter implicações legais.
O artigo 20 da Lei nº 7.716/1989 estabelece punições para quem “praticar, induzir ou incitar discriminação ou preconceito” por motivos de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional — e, após a decisão do STF, a comunidade LGBTQIA+ foi incluída nessa proteção. A pena pode variar de reclusão de um a três anos, além de multa.
A postura de Renata, ao divulgar e sustentar o meme, não apenas reforça discursos discriminatórios, mas pode ser enquadrada como um ato de incitação ao preconceito. Isso é ainda mais grave considerando sua posição como uma figura pública com milhões de seguidores
A Globo como alvo e o papel da mídia na promoção de pautas inclusivas
Ao associar Pabllo Vittar à Globo, o meme não ataca apenas a artista, mas também a emissora, frequentemente criticada por pautar questões de diversidade e inclusão. O que Renata parece ignorar — ou se recusa a aceitar — é que a presença de figuras como Pabllo Vittar na mídia não é apenas uma escolha editorial, mas uma necessidade em um país marcado por altos índices de violência contra pessoas LGBTQIA+.
Segundo o relatório do Grupo Gay da Bahia (GGB), o Brasil é o país que mais mata pessoas LGBTQIA+ no mundo. A visibilidade de artistas como Pabllo é fundamental para desconstruir preconceitos e promover debates necessários sobre inclusão e respeito.
Ao tentar desqualificar tanto a Globo quanto Pabllo Vittar, Renata Fan se alinha a um discurso que tenta silenciar essas vozes. É uma postura não apenas preconceituosa, mas profundamente irresponsável.
O esporte, o machismo e a normalização do ódio
A reação de parte do público de Renata Fan, que apoiou sua postagem, reflete uma realidade preocupante do jornalismo esportivo: o ambiente ainda é profundamente machista, conservador e avesso a discussões sobre diversidade.
Renata parece ter apostado justamente nesse contexto para evitar qualquer tipo de responsabilização. Em vez de reconhecer o erro e pedir desculpas, ela preferiu se esquivar, sabendo que seu público dificilmente a cobraria por isso.
No entanto, o apoio de uma parcela da audiência não justifica ou legitima a homofobia. Pelo contrário, apenas reforça a necessidade de responsabilização de figuras públicas que utilizam suas plataformas para disseminar preconceitos.
Renata Fan e o mito da loira burra
A atitude de Renata também traz à tona um estigma que há décadas prejudica mulheres loiras: o mito da “loira burra”. Esse estereótipo retrata mulheres loiras como fúteis, superficiais e incapazes de compreender questões complexas.
Ao perpetuar discursos preconceituosos e se recusar a assumir a responsabilidade por suas ações, Renata não apenas alimenta esse estigma, mas também prejudica a imagem de mulheres no jornalismo esportivo. Sua postura dá munição para quem ainda acredita que mulheres não têm lugar em ambientes tradicionalmente masculinos, como o esporte.
A irresponsabilidade tem consequências
Renata Fan, ao postar um meme homofóbico e se recusar a reconhecer o erro, não apenas mancha sua própria imagem, mas também contribui para a perpetuação de discursos de ódio e estigmas ultrapassados.
Em um momento onde a sociedade exige mais responsabilidade e empatia de figuras públicas, sua postura representa um retrocesso. Homofobia não é opinião; é crime. E memes como o de Renata Fan não são “apenas brincadeiras”, mas ataques que reforçam preconceitos e colocam vidas em risco.
O mínimo que se espera de alguém em sua posição é uma retratação pública. Enquanto isso não acontecer, Renata continuará sendo lembrada não por seu trabalho, mas por seu papel em um dos capítulos mais vergonhosos do jornalismo esportivo.