“Ainda Estou Aqui” faz história e celebra o primeiro Oscar do Brasil com emoção e resistência

O cinema brasileiro viveu um momento único e histórico na noite deste domingo (2/3). O filme “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles, conquistou o Oscar de Melhor Filme Internacional em 2025, trazendo pela primeira vez a estatueta para uma produção 100% brasileira. O prêmio celebra não apenas o talento nacional, mas também a força de uma narrativa que transcende fronteiras, abordando temas de resistência e justiça.

Este marco é ainda mais especial ao considerarmos o passado. Até então, o Brasil havia chegado perto da vitória nesta categoria com filmes como “O Pagador de Promessas” (1963) e “Central do Brasil” (1999). Apesar disso, nunca havia conquistado o título, até agora.

Fernanda Torres, que brilhou na pele da protagonista Eunice Paiva, também recebeu indicação ao Oscar de Melhor Atriz, consolidando ainda mais o impacto global do longa.

Uma história de luta e resiliência

Baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, o filme narra a trajetória de Eunice Paiva, interpretada de forma magistral por Fernanda Torres. Eunice enfrentou o sequestro e assassinato de seu marido, o ex-deputado Rubens Paiva, durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985). A história é um retrato íntimo e poderoso da busca incansável por justiça em meio à brutalidade de um regime autoritário.

Walter Salles, emocionado, declarou que “Eunice Paiva não se deixou vitimizar. Ela enfrentou o autoritarismo com coragem, sorriu quando pediram que chorasse, e escolheu viver e resistir.” Essas palavras traduzem o espírito do filme, que une o pessoal ao político de forma visceral e tocante.

Reconhecimento internacional

“Ainda Estou Aqui” ganhou destaque nos principais festivais de cinema, como Veneza e Roterdã, e acumulou prêmios como o Globo de Ouro e o Goya antes de conquistar o Oscar. Aclamado pela crítica, atingiu 97% de aprovação no Rotten Tomatoes, consolidando-se como um dos filmes mais elogiados de 2024.

Caryn James, crítica da BBC, descreveu o longa como uma obra que mistura o pessoal, o político e o artístico de maneira magistral. “Poucos filmes retrataram os efeitos devastadores da política sobre os indivíduos de forma tão íntima e oportuna.” Já o jornal britânico The Times classificou o longa como “um dos maiores filmes sobre maternidade já feitos”.

Impacto além do cinema

O impacto do filme transcendeu as telas. A narrativa trouxe de volta ao debate nacional a revisão da Lei da Anistia, que perdoou crimes cometidos durante a ditadura militar. O Supremo Tribunal Federal retomou ações que buscam responsabilizar acusados de violações graves, como o assassinato de Rubens Paiva. “O filme trouxe luz a um capítulo sombrio da nossa história que não pode ser esquecido,” ressaltou Sérgio Suiama, do Ministério Público Federal.

Um símbolo para o futuro

Para Walter Salles, “Não é apenas um filme sendo reconhecido, mas toda a cinematografia brasileira.” A conquista do Oscar representa um novo fôlego para a indústria nacional, assim como “Central do Brasil” simbolizou a retomada do cinema brasileiro na década de 1990.

Mais do que um prêmio, “Ainda Estou Aqui” é uma vitória da memória, da justiça e da cultura. É um lembrete de que histórias de resistência podem, sim, alcançar os corações do mundo todo. Que este Oscar seja apenas o começo de muitos outros.

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