Em um momento em que o mundo busca soluções urgentes para a crise dos resíduos plásticos, cientistas brasileiros alcançaram um marco histórico na luta contra a poluição global. Uma equipe multidisciplinar de pesquisadores descobriu uma bactéria capaz de não apenas degradar plástico, mas também transformá-lo em um biopolímero de alta qualidade, abrindo novos caminhos para a gestão sustentável de resíduos.
Descoberta revolucionária na reciclagem de plásticos
A bactéria, denominada BR4, pertencente à linhagem Pseudomonas sp, demonstrou capacidade extraordinária de decompor tereftalato de polietileno (PET) e convertê-lo em polihidroxibutirato (PHB), um bioplástico com propriedades superiores. Esta descoberta representa um avanço significativo no enfrentamento de um dos maiores desafios ambientais da atualidade, anualmente cerca de 350 milhões de toneladas de plástico são descartadas globalmente.
O problema da reciclagem tradicional
“A reciclagem tradicional não resolve o problema porque, em geral, produz plásticos com propriedades e aplicações inferiores, que também serão descartados ao final de sua utilização”, explica o professor Fábio Squina, da Universidade de Sorocaba (Uniso), coordenador da pesquisa. O trabalho conjunto, que envolve também pesquisadores da Unicamp e UFABC, foi publicado no periódico Science of The Total Environment.
Como funciona a nova tecnologia
O processo de descoberta envolveu uma análise meticulosa de amostras de solo contaminado por plásticos, onde os cientistas desenvolveram comunidades microbianas especializadas. Através do sequenciamento genômico de 80 bactérias, a equipe identificou não apenas espécies já conhecidas, mas também novas variantes com potencial para degradação de polímeros plásticos.
Características únicas da BR4
O diferencial da BR4 está em sua capacidade única de não apenas decompor o PET, mas também produzir um bioplástico enriquecido com unidades de hidroxivalerato (HV), resultando em um material com flexibilidade e resistência superiores. Esta característica abre possibilidades promissoras para aplicações em diversos setores industriais, desde embalagens sustentáveis até dispositivos biomédicos.
Impacto ambiental e perspectivas futuras
A pesquisa, que recebeu apoio da FAPESP através de 13 projetos distintos, surge em um momento crítico. Segundo dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), o plástico representa 85% dos resíduos que chegam aos oceanos, com projeções indicando que esse volume pode triplicar até 2040, ameaçando severamente a vida marinha e os ecossistemas costeiros.
Aplicações além da reciclagem
“Além de produzir bioplásticos, os microrganismos podem ser aproveitados para a produção de outros compostos químicos com aplicações nas áreas de agricultura, cosméticos e indústria alimentícia”, destaca Squina. No entanto, o pesquisador ressalta que estudos adicionais são necessários para validar estas descobertas em condições ambientais reais e otimizar o desempenho dos microrganismos.
Brasil na vanguarda da biotecnologia ambiental
A descoberta brasileira representa não apenas um avanço científico, mas uma esperança tangível no combate à poluição por plásticos. Em um cenário onde apenas 15% dos resíduos plásticos são efetivamente reciclados, a tecnologia desenvolvida pode revolucionar a maneira como lidamos com esse material, oferecendo uma solução verdadeiramente sustentável para um dos maiores desafios ambientais do século XXI.
Próximos passos da pesquisa
Os próximos passos incluem o desenvolvimento de técnicas para aprimorar bioquimicamente enzimas e microrganismos capazes de degradar plásticos ainda mais resistentes que o PET. Com o potencial de aplicação em diversos setores industriais, esta descoberta posiciona o Brasil na vanguarda da biotecnologia ambiental, demonstrando como a ciência nacional pode contribuir para soluções globais.
Urgência da solução
A urgência desta solução torna-se ainda mais evidente quando consideramos o impacto dos microplásticos, que já afetam solo, águas e ar, além de se acumularem nos organismos vivos, incluindo o corpo humano. Enquanto governos ainda buscam medidas efetivas para conter a crise dos plásticos, a comunidade científica brasileira demonstra que soluções inovadoras são possíveis através da biotecnologia.
Fontes: Science of The Total Environment e CNN Brasil