O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) culpou o Banco Central (BC) pela alta dos preços dos alimentos e pediu a ajuda da população para controlar a inflação. Em entrevista a rádios da Bahia nesta quinta-feira (6), Lula afirmou que o BC foi “totalmente irresponsável” e criou uma “arapuca” econômica difícil de desmontar.
“Nós tivemos um aumento do dólar, porque a gente teve um Banco Central totalmente irresponsável, que deixou uma arapuca que a gente não pode desmontar de uma hora para a outra”, disse o presidente. Ele também sugeriu que os consumidores evitem comprar produtos caros e optem por alternativas mais acessíveis, como forma de pressionar a redução dos preços.
A fala de Lula remete a uma estratégia similar adotada durante a ditadura militar no Brasil, nos anos 1970, quando o governo lançou campanhas para “educar” a população a consumir de forma mais consciente e evitar produtos com preços abusivos.
A estratégia de Lula: evitar produtos caros
Lula defendeu que a população tem um papel crucial no controle da inflação. Ele sugeriu que os consumidores evitem comprar itens com preços elevados, forçando os comerciantes a reduzirem os valores para não perderem vendas.
“Se todo mundo tivesse a consciência e não comprar aquilo que está caro, quem está vendendo vai ter que baixar para vender, senão vai estragar. Isso é da sabedoria do ser humano. Esse é um processo educacional que nós vamos ter que fazer com o povo brasileiro”, afirmou.
O presidente também incentivou a substituição de produtos caros por alternativas mais acessíveis, destacando que essa é uma forma de “controlar os preços” sem intervenções diretas do governo, como congelamentos ou fiscalizações extensivas.
A campanha da Ditadura: “Não compre o que está caro”
Durante a ditadura militar, o governo brasileiro enfrentou um cenário de inflação alta e lançou campanhas publicitárias para orientar a população a consumir de forma mais consciente. Uma das mais emblemáticas foi a campanha “Não Compre o que Está Caro”, veiculada na década de 1970.
A campanha incentivava os consumidores a pesquisar preços, evitar compras por impulso e optar por produtos mais baratos. O objetivo era reduzir a demanda por itens com preços abusivos, forçando os comerciantes a ajustarem seus valores.
A estratégia, no entanto, foi criticada por transferir a responsabilidade do controle da inflação para a população, enquanto o governo mantinha políticas econômicas que contribuíam para a alta dos preços, como emissão de moeda e endividamento público.
Comparação entre os dois momentos
Tanto na ditadura militar quanto no governo Lula, a estratégia de “educar” o consumidor foi usada como uma forma de combater a inflação. No entanto, há diferenças importantes entre os dois contextos:
- Causas da Inflação:
- Na ditadura, a inflação era impulsionada por políticas econômicas expansionistas, como emissão de moeda e gastos públicos excessivos.
- No governo Lula, a alta dos preços está mais relacionada a fatores externos (como a valorização do dólar) e à política de juros do Banco Central.
- Papel do Governo:
- Durante a ditadura, o governo transferia a responsabilidade para a população, sem adotar medidas estruturais para resolver o problema.
- Lula, por outro lado, critica o Banco Central e promete diálogo com empresários para encontrar soluções, mas também apela à conscientização dos consumidores.
- Contexto Político:
- Na ditadura, as campanhas eram impostas de forma autoritária, sem espaço para críticas ou debates.
- No governo Lula, a estratégia é apresentada como uma sugestão, com apelo à “sabedoria do ser humano” e à educação do povo.
Críticas e desafios
A estratégia de Lula já recebeu críticas de economistas e especialistas, que argumentam que o controle da inflação depende mais de políticas macroeconômicas do que de mudanças no comportamento do consumidor. Além disso, a alta dos preços de alimentos básicos, como arroz, feijão e carne, limita a capacidade das famílias de escolherem alternativas mais baratas.
Enquanto isso, a comparação com a ditadura militar ressalta os desafios históricos do Brasil no combate à inflação e a necessidade de soluções estruturais, que vão além de campanhas educativas.